sábado, 3 de maio de 2014

Esporte e infância


  A prática de atividades físicas na infância é um assunto muito discutido nos dias atuais e que gera algumas dúvidas em muitos pais. Idade ideal para iniciar, qual modalidade praticar de acordo com a idade, se alguma atividade pode prejudicar o crescimento e o desenvolvimento são exemplos recorrentes. Há inúmeros questionamentos, poucas respostas com bases científicas e muitas "verdades" do senso comum.
    A idade inicial depende da modalidade escolhida e normalmente é orientada nos próprios clubes e estabelecimentos sobre quando se deve começar a prática de cada esporte. A maioria das crianças inicia sua vida esportiva pelo aprendizado da natação tanto por ser uma atividade que se pode praticar antes mesmo de completo o primeiro ano de vida, quanto pela indicação de pediatras por prevenção ou tratamento de distúrbios respiratórios. A partir dos 3 anos de idade abre-se o leque de opções e neste ponto surgem as primeiras perguntas dos pais e responsáveis.
    Não havendo qualquer restrição de ordem clínica, penso ser a ludicidade o primeiro crivo na decisão acerca de qual atividade a criança deverá praticar. O pré-requisito para que um indivíduo se torne fisicamente ativo na vida adulta é vivenciar atividades físicas prazerosas na infância. Ou seja, a criança deve ser incentivada a fazer exercícios contanto que faça algo que gosta.
    No que concerne ao crescimento e desenvolvimento, é interessante que a criança tenha acesso à maior quantidade de estímulos possível como forma de suprir a escassez de movimento que a vida urbana contemporânea impõe. Modalidades que propiciem corridas livres, saltos, giros, rolamentos e toda sorte de ações motoras são fundamentais para boa coordenação motora e consciência corporal.
    A variedade de esportes também traz outra vantagem no que diz respeito aos valores educacionais e de socialização. Pela minha experiência prática como atleta e professor, entendo que experimentar modalidades individuais e coletivas acarreta benefícios inestimáveis para a formação educacional do indivíduo. Sentir as diferenças entre ambas desenvolve a capacidade sócio-afetiva da criança, preparando-a para o convívio social e profissional na vida adulta.
    Além dos muitos prós, o esporte na infância gera uma série de dúvidas e opiniões sobre possíveis malefícios de sua prática nos primeiros anos de vida. Por se tratar de conhecimentos da área biomédica que evolui cada vez mais rápido à medida que as descobertas e pesquisas se multiplicam, mitos e "verdades absolutas" se sedimentam com o passar dos anos. É difícil a quebra de paradigmas, mas não custa tentar em prol da saúde. Aliás, deve-se fazê-lo!
    São muitos os mitos do senso comum, portanto escolhi apenas dois para que coubesse aqui. Ambos são sobre crescimento e desenvolvimento, criando enorme confusão e preocupação em pais e familiares. Todos já ouvimos alguém dizer que certo esporte estimula o crescimento e que outro faz parar de crescer. Sobre a primeira afirmação a resposta é simples. Quem determina a altura da criança é sua herança genética, o que ocorre nos esportes é seleção natural. Pra algumas modalidades é fundamental ser alto, eliminando-se os mais baixos. Em outras ocorre exatamente o oposto. Já a segunda é um pouco mais complexa, mas superestimada. Para que haja prejuízo no crescimento, deve haver lesão epifisária. A mesma pode ser traumática ou pelo excesso de exposição a atividades físicas de volume e intensidade demasiados em tenra idade. A primeira situação ocorre em geral de acidente grave. No segundo caso, que envolve a prática esportiva, deve-se entender que o citado excesso é ocasionado em condições extremas. Correr, saltar, jogar futebol, basquete ou vôlei não são causas de tal lesão, para tal seria necessário que a criança treinasse com períodos e cargas de atletas adultos. Algo inconcebível para um profissional de Educação Física, mesmo que inexperiente. Em 25 anos como atleta e 10 como profissional nunca presenciei nem soube de tal ocorrência. 
    Deve-se estimular a prática esportiva, mas havendo dúvidas faz-se necessário procurar um profissional gabaritado que ofereça a devida orientação.  

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