domingo, 1 de junho de 2014

Crossfit

    
    Aproveitando o tema do último post, comentarei hoje a mais recente moda no universo do fitness e do treinamento desportivo: Crossfit. Prós, contras, vantagens e desvantagens. Enfim, se há realmente algo de novo ou se é apenas mais um modismo maquiando antigos conceitos com novos nomes. Vou começar com o que a proposta sugere para depois concluir com o que vejo.
    A ideia é central é preparar o indivíduo para realizar qualquer tarefa física que lhe for imposta. É o que se pode chamar do mais amplo conceito de treinamento funcional, já que o principal foco do programa é habilitar o praticante a realizar funções. Para tal objetivo lança-se mão de uma gama extensa de movimentos e exercícios que estimulem as principais habilidades motoras (capacidade cardio-respiratória, força, flexibilidade, potência, resistência muscular, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão) assim como as três vias metabólicas (anaeróbia alática, anaeróbia lática e aeróbia). Bem, a conjunção de estímulos variados com recrutamento variável das vias metabólicas não é exatamente uma novidade. Aliás, já é conhecido há um bom tempo com o nome de treinamento em circuito. Resumindo, a proposta é gerar constante alteração nos padrões de adaptação neuro-muscular, mobilizar as três vias metabólicas e estimular as principais habilidades motoras.
    Acerca do quesito novidade, logo percebe-se que não pode ser apontada como uma atividade revolucionária. Treinamento em circuito e exercícios funcionais não são debutantes no mercado. Em se tratando da ideia central, também já é assunto bastante discutido na área da psicomotricidade, assim como do crescimento e desenvolvimento. O ineditismo está em abordar o tema para adultos, já que a celeuma ocorre há algum tempo com relação à pobreza motora na infância contemporânea e à necessidade de se oferecer maior leque de estímulos motores para as crianças atualmente.
    Sobre o método usado há que se ressaltar dois aspectos que particularmente me agradam. O fator motivacional e o treino em circuito. Este último permite ao treinador alcançar diversos objetivos apenas mexendo nas variáveis volume e intensidade. E é nesse ponto que o crossfit, assim como os circuitos em geral e os treinos "funcionais", pode ser uma atividade bem interessante. Usando criteriosamente os recursos materiais disponíveis é possível obter sucesso nas mais variadas metas de forma segura e gradual.
    Contudo, dois pontos me preocupam. O primeiro é comum a todas as atividades coletivas. O controle das variáveis. Principalmente quando se trata de iniciantes e sedentários, a falta do controle objetivo pode ser perigoso para a integridade física do praticante. Não adianta, todas as aulas coletivas possuem o mesmo problema de subjetividade de avaliação e controle de variáveis do treinamento (carga, velocidade de execução, ângulo de movimento, etc). Não acredito na ideia de exercícios contra-indicados, mas certamente há pessoas contra-indicadas para certos movimentos.
    O segundo diz respeito ao foco prioritário a que o programa se propõe. A constante variação de estímulos pode ser que aumente a capacidade neuro-motora de um atleta, mas não estou certo quanto à eficácia para um iniciante, um sedentário ou alguém com pequeno lastro motor. A aquisição de novos caminhos neurais depende da manutenção dos estímulos por um período mínimo de tempo. Mas esta é apenas uma suposição que demanda estudos que se debrucem sobre o tema.
     Enfim, penso se tratar de mais um modismo que, assim como seus antecessores, tem de positivo o lado motivacional, mas que não deve ser tratado como milagre ou fórmula mágica. É uma ferramenta, e como tal precisa ser usada com sabedoria e conhecimento para que seja útil, eficaz e segura.   
   
    
    
   

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Modismos - o que se vende X o que se compra

    A fórmula já é batida, mas segue fazendo sucesso entre consumidores do produto atividade física. Talvez por se tratar de um público leigo, talvez pela mentalidade consumista que pede novidades. Seja pelo motivo que for, repete-se ano após ano. Pega-se um conceito ou princípio básico, um punhado de movimentos e exercícios, utiliza-se alguns aparelhos novos e cria-se um novo e atraente nome (normalmente em inglês). Pronto! Agora é só fazer uma campanha de propaganda anunciando a última revolução em termos de atividade física, e tudo que existia antes se torna obsoleto instantaneamente. Uma legião de ávidos pelo corpo perfeito ou pela fórmula mágica da juventude irá migrar para o novo modismo que promete, quase sempre, resultados melhores e mais rápidos que qualquer método existente! A propaganda em geral é eficiente, mas será que compra-se gato por lebre?
    A resposta remete a longo debate, portanto vou me ater ao que considero as questões principais. Primeiro é importante destacar que qualquer movimento que incentive a prática de atividades físicas deve ser visto como algo positivo. Dito isto, penso que aulas e atividades coletivas possuem uma variável fundamental que já abordei antes. Motivação. Contudo, o esporte se tornou uma ciência há pelo menos duas décadas e não se pode admitir que seus profissionais sejam meros animadores de platéia. É então que chega-se ao ponto negativo dos modismos. Pondo o item diversão e entretenimento à frente dos outros, acarreta-se prejuízo à qualidade técnica e científica do programa de treinamento. 
  O imediatismo buscado ao ingressar na última moda do mundo fitness, contrasta com a mentalidade a longo prazo que se deve ter ao adicionar novos hábitos à rotina. A continuidade e a progressão pedagógica do programa de exercícios têm como consequência resultados consistentes e duradouros, baseando suas ações nos princípios do treinamento desportivo e na periodização do mesmo. Não há nada de errado em ter um atleta como referência, mas tenha em mente que o corpo de um profissional do esporte é resultado de anos dedicados à prática esportiva sistemática. Muitos amadores se tornam atletas após iniciarem um programa de treinos, mas isso se dá gradualmente e como consequência natural da adição de atividades físicas na rotina de afazeres diários. 
    Uma vez iniciado o processo de aquisição de hábitos esportivos, toma-se consciência do próprio corpo e de seus limites assim como adquiri-se níveis mais altos de condicionamento físico global, habilitando o indivíduo a participar de quaisquer atividades sem restrições. Inclusive os modismos.
    Portanto, entenda que os princípios que norteiam os programas de treinos atuais foram criados há mais de cinco décadas. Não há fórmula mágica, nem milagres. Se algum sistema ou programa de atividades físicas prometer um dos dois, duvide. Procure saber que critérios fundamentam a proposta que for oferecida. Estar sedentário há anos não é o fim do mundo, mas tenha em mente que a paciência necessária é proporcional ao prejuízo acumulado nos anos de inércia. Qualidade de vida, saúde e estética corporal são resultados obtidos naturalmente ao incluir novos hábitos saudáveis em sua rotina. E trate estes hábitos como inegociáveis! 

domingo, 18 de maio de 2014

Qualidade de vida acessível


    Academias com equipamentos de última geração, avaliações médicas e funcionais criteriosas, serviço de personal trainers, consultas com nutricionistas. Todos os itens descritos possuem alto custo para quem pretende dispor do que há de melhor em termos de acompanhamento e estrutura quando se trata de atividade física e saúde. Contudo, há opções para quem não pode se cercar de todas estas opções. Poderia e deveria haver mais, é verdade, mas os trecho de ciclovia, os equipamentos instalados em praças públicas, os parques públicos, praias e outros espaços públicos possibilitam que a população se mantenha ativa a baixo custo. O problema é a falta de orientação e informação correta. Vão aqui algumas dicas.
    O foco inicial é ter em mente que a falta de estrutura deve ser substituída por cautela e paciência para que o início da aquisição de bons hábitos não se torne um transtorno provocado por lesões. Na ausência de uma avaliação mais profunda pode-se fazer uso de um referencial bem prático, simples e eficiente. A escala subjetiva de esforço, ou escala de Borg, serve como parâmetro para nortear a intensidade adotada nas atividades praticadas. Indo de 1 a 10, deve-se iniciar por uma atividade leve que fique em torno de 5 e manter assim por período variando de 8 a 10 semanas. A partir deste ponto, aumenta-se 1 ponto na escala a cada 4 semanas até chegar a 8.
   O volume também é fundamental e, no princípio, duas a três vezes por semana é a frequência prudente para quem se encontrar inerte. Além da frequência semanal, a duração diária compõe o volume de treinamento e deve-se começar com 20 a 30 minutos por dia. 
    Contudo, é necessário estar atento aos fatores restritivos. O sobrepeso é um deles e, nesse caso, evita-se atividades e superfícies que gerem alto impacto sobre as articulações dos membros inferiores, como corridas e saltos. Pode-se executar exercícios de força localizados enquanto a mudança de hábitos alimentares ocasiona a redução do peso corporal. Não sou nutricionista e não me cabe prescrever dietas, mas medidas básicas podem e devem ser tomadas por quem não pode custear uma consulta. Ingerir bastante água, se alimentar a cada 3 horas, evitar "calorias vazias" como frituras e doces, variar e colorir as refeições e moderar na quantidade de comida por refeição já ajuda no processo.
    Treinar a flexibilidade é outra peça chave na melhora da qualidade de vida, além de preparar o corpo para as atividades que se iniciam. Procure realizar em horário distinto dos outros treinos. Se corre, pedala, nada ou malha de manhã, treine a flexibilidade à noite. Ou vice-versa. Caso alguém tenha se perguntado, o ideal é a primeira opção. Execute cada posição por 30 segundos, inicialmente. A cada 4 semanas de treinos aumente 10 segundos até chegar a 1 minuto. Abaixo segue uma tabela de alongamentos como exemplo e modelo.
    Contudo, antes de iniciar qualquer programa  de atividades físicas deve-se eliminar qualquer risco ou limitação que possa haver no organismo. Portanto, a consulta ao médico deve preceder o início dos exercícios. Com prudência, bom senso, cautela e paciência é possível melhorar a qualidade de vida, aumentar a auto-estima e vivenciar momentos de lazer e prazer com segurança.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Desenvolvimento físico global na infância

    Como abordei recentemente o desenvolvimento motor e esportivo na infância, assim como a importância de se tratar de forma lúdica o trabalho com crianças, resolvi utilizar imagens no lugar de palavras para dar uma breve amostra de como se estimular diversas habilidades motoras de modo seguro e motivante. No vídeo abaixo são demonstrados exercícios simples e de fácil execução que desenvolvem força, coordenação motora, agilidade, velocidade, potência, lateralidade, resistência muscular, consciência corporal lançando mão de ludicidade e desafios. Um bom exemplo de como trabalhar o corpo com eficácia e eficiência usando poucos materiais e pequenos espaços.







    O post de hoje não seria possível se não fosse a colaboração de um atleta dedicado e interessado que treinei por alguns anos. Obrigado Carlos Moura!




quarta-feira, 14 de maio de 2014

Propriocepção - Reabilitação, prevenção e condicionamento


    A propriocepção ou cinestesia é também chamada de "sexto sentido", pois constitui um complexo sistema que envolve consciência corporal, percepção espacial, sistema vestibular além de diversos mecanismos de feedback neuromotor. Trocando em miúdos, é como um radar que informa ao cérebro a posição do corpo e das articulações sem que se faça uso exclusivo da visão ou do tato. Os responsáveis por esta leitura são receptores sensoriais chamados de proprioceptores, localizando-se dentro dos componentes articulares e no labirinto. Após a breve e sucinta descrição, vamos ao que interessa. Como este sistema atua no movimento e como influencia o desempenho esportivo.
    Apesar de pertencer ao estudo da neurofisiologia e possuir direta relação com o movimento, a propriocepção inicialmente foi alvo apenas da medicina e da fisioterapia. Contudo, nos últimos anos, diversos estudos têm demonstrado efeitos positivos da aplicação de estímulos proprioceptivos tanto na prevenção e redução do índice de lesões traumáticas, como na melhora do rendimento esportivo de atletas de variadas modalidades. Ao realizar o feedback de variações de ângulo, alongamento, compressão e pressão nas articulações para o cérebro, os proprioceptores desenvolvem a capacidade de coordenação e percepção neuromotora. Esta estimulação auxilia na recuperação de articulações lesionadas, "fortalece" os componentes articulares em que se posicionam os proprioceptores e induz melhoras na capacidade coordenativa do indivíduo.
    Os conceitos e movimentos antes utilizados apenas em sessões de cinesioterapia passaram a fazer parte de treinos preventivos e também de programas de condicionamento global e específico de atletas. Métodos como Core Training, Treinamento Funcional e Pilates lançam mão de exercícios que recrutam o sistema cinestésico, desenvolvendo a consciência corporal, força, agilidade, coordenação motora, flexibilidade e equilíbrio. Além da otimização do treinamento, tem se percebido recentemente que estímulos proprioceptivos tendem a "fortalecer" os componentes articulares de modo que, ao ocorrer um trauma, as articulações "fortalecidas" defendem o movimento lesivo. Esta defesa parece poder evitar uma lesão ou amenizar a gravidade da mesma. Portanto, trabalhar com ênfase na cinestesia promove melhoras esportivas e tende a defender as articulações de possíveis lesões traumáticas.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Cãibra: mitos e fatos


Objeto de inúmeros estudos e observações há mais de um século, a cãibra ainda é um dos "buracos negros" da fisiologia de exercício e da medicina esportiva. E, talvez por isso, abre espaço para opiniões e afirmações pouco confiáveis pelo senso comum e mesmo por profissionais do esporte. Vamos aos mitos, fatos e questões ainda sem resposta.
    Há diversas teorias acerca das causas da ocorrência de cãibras, contudo destacam-se duas: a abordagem dos processos de fadiga do SNC (sistema nervoso central) e a as alterações hidro-eletrolíticas. Embora ambas indiquem caminhos que elucidem as dúvidas, poucas certezas foram extraídas dos estudos ao longo dos anos. Tais evidências servem tanto para afirmar o que é fato quanto para apontar lendas.
    A associação mais frequente no senso comum é a que se faz entre cãibra e ingestão de potássio, normalmente indicando-se comer bananas. Contudo, estudos recentes demonstram que a única perda de eletrólito significativa pelo suor durante atividades físicas é a de sódio, excluindo a ideia de que seja necessária a suplementação de outros sais minerais como potássio, magnésio e cálcio. Entretanto, não basta apenas suar em abundância. O indivíduo precisa ter um alto índice de eliminação de sódio pelo suor, indicando a relativização deste referencial. Sugere-se a ingestão de líquidos com predominância de sódio, e não apenas água, antes e durante a prática esportiva. Mas um profissional da área deve dosar a concentração, tendo em vista que o excesso de sódio também pode desencadear episódios de cãibra.
   A fadiga muscular também é relacionada à presença de cãibra e alguns resultados parecem apontar para a consistência de tal assertiva. Porém, mais uma vez a individualidade biológica parece intervir, uma vez que muitos atletas testados não apresentaram cãibras mesmo após alcançarem estado de fadiga. A falha motora que seria responsável pela cãibra teria origem na fadiga do SNC, mas a influência do estresse é nítida e torna ainda mais imprevisível e imensurável a exatidão das causas. 
    Outros afirmações têm se consolidado como mito. Uma delas é que a ausência de alongamento prévio causaria cãibra. Como já foi postado aqui antes, deve-se distinguir alongamento de flexibilidade, sendo esta uma habilidade motora essencial a todo praticante de atividades físicas regulares e que deve ser estimulada de forma isolada das outras.
    Portanto, o que se pode afirmar sobre a cãibra é que nutrição adequada, ambientação ao local da prática esportiva, reposição hidro-eletrolítica correta e condicionamento físico ideal tendem a reduzir sua ocorrência. Excetuando-se, naturalmente, casos de patologias clínicas.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Jogos longos não são garantia de predominância aeróbica

     Costuma-se associar esportes que proporcionam partidas de longa duração com a predominância do sistema aeróbico na transferência de energia no corpo do atleta. A solicitação energética depende da intensidade e do volume do jogo durante a execução dos gestos esportivos, mas há que se observar as variáveis atentamente.
  A principal variável nesta análise é se a atividade é contínua ou intervalada. Sendo contínua, a complexidade metabólica é menor e mais simples de se identificar o sistema predominante. Nos esportes de caráter intervalado, torna-se mais difícil dissecar o recrutamento energético e aí entra a discussão proposta.
  Tomando o tênis como exemplo temos uma modalidade de complicada avaliação fisiológica. Trata-se de um desporto com pontos de curta duração, alta intensidade e com partidas de longa duração. Uma partida de alto rendimento pode durar mais de quatro horas! Presume-se então ser uma atividade de predomínio do recrutamento da via aeróbica, correto? Errado! Avaliações apressadas e superficiais levam a enganos desse tipo. Deve-se atentar para os detalhes dos dados.
    Embora uma partida dure horas, o tênis é um jogo intervalado no qual os intervalos, na maioria das vezes, duram mais que os pontos. No nível profissional, um ponto tem, em média, sete segundos no saibro e cinco na quadra rápida. A regra permite aos jogadores um intervalo de até 25 segundos entre os pontos. Qualquer atividade com relação exercício/repouso de 1/3 ou de 1/5 não pode ser caracterizada como predominantemente aeróbica. Contudo, o componente aeróbico se manifesta na recuperação entre os pontos, possibilitando que o atleta reinicie o jogo com bons padrões fisiológicos para desempenhar suas ações motoras. Um jogador com deficiências no condicionamento aeróbio acumula rapidamente o desgaste do esforço durante os pontos e cai de rendimento precocemente. 
  O condicionamento aeróbio é fundamental para que um tenista consiga realizar deslocamentos e golpes durante toda a partida de forma eficiente e eficaz, mas ele não precisa ter a capacidade de absorção de oxigênio de um maratonista. Aliás, nem a alcançará. Tênis e provas de longa duração são concorrentes, uma prejudica que a outra chegue a ápice de seu potencial.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Esporte - Educação para todas as idades



    Quando fala-se em educação logo se pensa em criança e escola, contudo o processo educativo pode e deve ocorrer ao longo de toda a vida para que se mantenha a sociedade em constante evolução. Assim, o esporte representa importante ferramenta educacional na transmissão de valores e princípios, tendo em vista ser um fenômeno que alcança todas as faixas etárias.
    Se o esporte é um condutor de educação, seus principais expoentes são os atletas, responsáveis por influenciar através de exemplos. Em âmbito nacional tal constatação é um fator ambíguo, já que os atletas de destaque na mídia são jogadores de futebol que trazem, em sua maioria, carências educacionais profundas por serem produtos de nossas mazelas sociais. Ora, como ser exemplo e vetor educacional se lhes faltaram quaisquer referências sobre o assunto ao longo de toda sua vida? Mas mesmo assim são exemplos. Entretanto, replicam o que aprenderam e passam mensagem diversa da que deveriam transmitir. E estas são assimiladas tanto por crianças como por adultos.
    Para muitos brasileiros a causa de nossas deficiências enquanto sociedade se encontra nos políticos e líderes, porém eles apenas reproduzem o que nossa cultura educacional cria. O pensar coletivo não existe, aliás, é execrado. Impera a “lei de Gerson”, curiosamente uma expressão advinda de um personagem esportivo. Dirigir pelo acostamento em um engarrafamento, usar a fila rápida no mercado mesmo com mais itens do que o indicado, “matar” vaga ao estacionar para ter mais conforto ao sair, jogar lixo no chão, estacionar veículo à frente de rampa de acesso. Estas ações são corriqueiras e recorrentes em nosso cotidiano e, para a maioria, é absolutamente normal. Pior! Aquele que reclama é chato, caxias, estressado. E assim perpetua-se a falta de educação que, para os mesmos brasileiros citados acima, só se resolve com punição. Acredita-se que a impunidade é a geratriz de tudo isso. Há controvérsias e o esporte serve de micro universo da vida para ilustrar.
   As regras do futebol são ultrapassadas e falhas, permitindo que sejam burladas facilmente. As mesmas normas do jogo se aplicam aqui e na Europa, assim como em todo o globo. Pela linha de pensamento da punição como solução para todos os males, o comportamento deveria ser o mesmo no Brasil ou na Alemanha, por exemplo. Mas não é, e comprova o quanto nossa cultura educacional difere de outras sociedades. A “cera” é figura regular em nossas partidas de futebol e é fruto da soma de um conjunto de regras deficiente com maus hábitos de desrespeito ao jogo. Tente encontrar a mesma figura em gramados europeus. Se encontrar, repare na reação dos outros atletas e das próprias torcidas. A reprovação será imediata. Da mesma forma acontece com a simulação de falta ou o vulgo “cai-cai”, alvo de inúmeras críticas a jogadores brasileiros quando atuam em clubes europeus. Aqui é considerado inteligente o atleta que ludibria a arbitragem, enquanto em outros tantos lugares é tratado como um contraventor. E, de fato, o é. Fica nítido o entendimento de tal raciocínio quando entende-se que, além de valorizar a esportividade, em outras praças o esporte é tratado também como um produto e que o torcedor é um consumidor, com deveres e direitos. Assim como um cidadão também é um contribuinte, com seus deveres e direitos.

    Felizmente, a consequência dos níveis de profissionalismo que o esporte alcançou, assim como suas cifras, trouxeram para o universo esportivo profissionais de outras áreas como o marketing, gerando preocupação com a imagem dos atletas e, por conseguinte, com seus atos dentro e fora dos palcos esportivos. Indiretamente este fenômeno colabora com melhores exemplos, reforçando cada vez mais o papel do esporte como formador de opinião e instrumento educacional.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Sedentarismo - Terceira Idade


    Certas áreas do conhecimento humano evoluíram consideravelmente nos últimos trinta anos, destacando-se tecnologia e medicina. Ambas afetam diretamente a vida em diversos aspectos como modo de vida, longevidade e qualidade de vida, entre outros. Com os avanços e descobertas da medicina e da indústria farmacêutica, a expectativa de vida do ser humano vem crescendo exponencialmente nas últimas décadas. Todavia, não basta viver por mais tempo, há que se buscar viver com qualidade e funcionalidade.
     Atingir ou não boas condições de vida na terceira idade depende de variados fatores como genética e hábitos de vida. Ainda não dominamos a manipulação genética, mas quanto aos hábitos de vida pode-se refletir bastante e construir um caminho proveitoso. Usando de comparações, pode-se dizer que os hábitos de vida de um indivíduo são como suas finanças. Pequenos investimentos ao longo da vida podem trazer lucros significativos mais à frente. E a boa notícia. Nunca é tarde para investir!
    Assim como no mercado financeiro, é preciso tomar cuidado com os investimentos. Feitos de modo incorreto acarretarão prejuízos. Portanto, orientação no momento de investir é fundamental para garantir a rentabilidade desejada.
    Como no sedentarismo infantil, o idoso inerte acumula problemas de saúde. E neste caso há um agravante, as consequências psicológicas. Inúmeras pessoas ao chegar em idades mais avançadas se sentem inúteis e se deixam entrar em depressão. A atividade física, além do benefícios fisiológicos, estimula a socialização e o convívio. Alcançar qualidade de vida não se trata apenas de desenvolver boas condições físicas, sem uma boa saúde mental o corpo perece.
     O receio de movimentar o corpo também é um fator limitante, já que cria-se a ideia de que o idoso não pode quase nada em termos de atividades físicas. Excluindo possíveis limitações clínicas, a pessoa na terceira idade pode tudo aquilo que seu condicionamento físico permitir! O referencial restritivo é o bom senso e o conhecimento teórico-prático do profissional que estiver orientando o idoso. De resto, penso ser a indicada a fórmula que já comentei anteriormente. Conciliar prevenção e funcionalidade com a ludicidade.
     Antes de encerrar, há um tópico relevante quando se trata de atividade física na velhice. Ainda é comum restringir a prescrição de exercícios à prática de atividades aquáticas, execrando quaisquer outras. Na minha opinião, um erro grave. O excesso de zelo pode custar caro quando se exclui atividades que estimulam a produção óssea e/ou o aumento de massa magra em idosos. Nada contra hidroginástica, pelo contrário. Mas deve-se tentar conciliar com atividades que gerem impacto nos tecidos ósseos. Acredito ser o treino de força o mais indicado. Na sala de musculação controla-se praticamente todas as variáveis intervenientes como número de repetições, carga, número de séries, posição do corpo e ângulo, velocidade e amplitude de movimento. Dessa forma o trabalho torna-se mais eficaz no auxílio do tratamento de condições comuns à faixa etária, como osteoporose e perda de força e massa muscular, por exemplo.   

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sedentarismo - Infância


    Como já postei anteriormente, a obesidade é um dos males que mais prejudicam a qualidade de vida do ser humano na atualidade e suas principais causas são má alimentação e sedentarismo. A falta do hábito de realizar atividades físicas regulares e sistemáticas vem modificando até mesmo países que traziam em seus costumes mais antigos a cultura de exercitar o corpo. Como consequência de alterações dessa magnitude, o problema do aumento excessivo de peso corporal já atinge uma parcela significativa da população infantil.
    O resultado desse contexto já é visível, mas para que se chegue a soluções deve-se antes visualizar as causas. Para início de conversar é mister que se entenda que educa-se pelo exemplo e que o primeiro e principal exemplo para uma criança é o de seus pais. Pais sedentários vão criar, via de regra, filhos sedentários. Da mesma forma acontece com a alimentação, assim como com a maioria dos hábitos de vida.
    O modo de vida urbano contemporâneo é outro fator que contribui para o sedentarismo precoce. Espaços reduzidos, violência, desvalorização da educação física e do desporto escolar são os principais alicerces da atual cultura da preguiça, juntamente com a ausência de exemplo citada acima. 
    Como se trata de uma vertente educacional, penso que encontra-se no lar e na escola a solução para que se alcancem resultados positivos em um futuro próximo. A escola tem papel fundamental neste processo não apenas incentivando o esporte competitivo e recreativo, como também ao resgatar brincadeiras infantis que se perdem com o passar dos anos. Antes de se pensar em iniciação esportiva e aprendizagem de técnicas específicas de determinada modalidade, deve-se proporcionar o movimento livre, variadas sensações táteis e motoras sempre com base na ação lúdica. Jogos e brinquedos cantados, cirandas, rodas e todas as atividades que envolvam ludicidade e o imaginário infantil devem ser o ponto de partida que garantirá o vínculo consistente da criança com seu corpo em movimento. O prazer de brincar e jogar com o próprio corpo livremente e interagir com outras crianças cria raízes profundas e poderosas no hábito dos futuros adultos. O esporte usado como ferramenta educacional e de promoção de saúde é um meio eficaz e barato para evitar uma população enferma.

domingo, 4 de maio de 2014

Saindo da inércia: o que se costuma fazer X o que deveria ser feito ao iniciar um programa de exercícios físicos

     Os avanços tecnológicos nas ultimas três décadas trouxeram inúmeros benefícios para a humanidade e alteraram significativamente o modo de vida. Internet, notícias em tempo real, acesso à informação praticamente ilimitado, descobertas médicas, aumento da expectativa de vida. Todos estes fatores alteraram o biorritmo do ser humano desde a infância até a terceira idade (quiçá caiba chamá-la hoje de quarta idade!) e fazem com que se repense nosso cotidiano e nossas prioridades.
    Recentemente a OMS classificou a obesidade como o mal a ser combatido nos dias de hoje, pondo em destaque os principais vetores do problema: alimentação e sedentarismo. Ambos estão intimamente conectados, contudo manterei o tema de hoje no que concerne à minha área que é a falta de movimento no homem contemporâneo. Tendo introduzido o assunto, vamos ao que interessa...
    Os motivos que movem uma pessoa a sair do sedentarismo são vários, se destacando estética, saúde e qualidade de vida. A iniciativa por si só já constitui melhora na condição do indivíduo tendo em vista o fator psicológico vencido ao tornar a necessidade em ação. Entretanto, alguns cuidados devem (deveriam) ser observados ao iniciar um programa de atividades físicas.
    O começo, sendo o primeiro da vida ou após anos de inatividade, pressupõe uma ordem dos acontecimentos. Consulta e avaliações médicas, avaliações específicas, prescrição do programa, reavaliação de metas e do próprio programa progressão pedagógica e fisiológica do aluno. Partindo desta visão macro, pode-se partir para o desmembramento do treino.
    A primeira função e objetivo de qualquer programa de treinamento é evitar futuras lesões e criar a base estrutural e fisiológica que permitirá a evolução do aluno. As primeiras atividades devem ser sempre aquelas que ofereçam o controle do maior número de variáveis possível. Ou seja, aulas coletivas nem pensar. Deveria se iniciar pelo treino de força na sala de musculação e pelo treino aeróbio na sala cardio (esteira, bicicleta e ergômetros em geral). Quase nunca instrui-se o aluno dessa forma por razões mercantis, mas deveria-se. 
    Após a (re)adaptação neural, na qual os componentes articulares são preparados para volumes e intensidades maiores de treinamento, e da preparação básica do sistemas cardiovascular e pulmonar, pode-se passar a abordar os objetivos específicos de cada um. Concilia-se os motivos pessoais citados anteriormente com os princípios do treinamento desportivo para que o desenvolvimento de determinadas habilidades motoras sejam traduzidas em redução do percentual de gordura corporal, hipertrofia, redução do peso corporal, alteração do IMC, melhora na qualidade de vida, etc.
     Realizando o processo gradual de preparação básica o indivíduo garante a continuidade de seu programa e abre um rol de opções de esportes e/ou atividades que ele pode realizar com segurança. Por o fator motivacional e lúdico um pouco de lado é um pequeno preço que se paga para assegurar uma vida saudável, o corpo que se deseja e que o "projeto verão" se torne "projeto verões". Todos os próximos verões até o último.

sábado, 3 de maio de 2014

Esporte e infância


  A prática de atividades físicas na infância é um assunto muito discutido nos dias atuais e que gera algumas dúvidas em muitos pais. Idade ideal para iniciar, qual modalidade praticar de acordo com a idade, se alguma atividade pode prejudicar o crescimento e o desenvolvimento são exemplos recorrentes. Há inúmeros questionamentos, poucas respostas com bases científicas e muitas "verdades" do senso comum.
    A idade inicial depende da modalidade escolhida e normalmente é orientada nos próprios clubes e estabelecimentos sobre quando se deve começar a prática de cada esporte. A maioria das crianças inicia sua vida esportiva pelo aprendizado da natação tanto por ser uma atividade que se pode praticar antes mesmo de completo o primeiro ano de vida, quanto pela indicação de pediatras por prevenção ou tratamento de distúrbios respiratórios. A partir dos 3 anos de idade abre-se o leque de opções e neste ponto surgem as primeiras perguntas dos pais e responsáveis.
    Não havendo qualquer restrição de ordem clínica, penso ser a ludicidade o primeiro crivo na decisão acerca de qual atividade a criança deverá praticar. O pré-requisito para que um indivíduo se torne fisicamente ativo na vida adulta é vivenciar atividades físicas prazerosas na infância. Ou seja, a criança deve ser incentivada a fazer exercícios contanto que faça algo que gosta.
    No que concerne ao crescimento e desenvolvimento, é interessante que a criança tenha acesso à maior quantidade de estímulos possível como forma de suprir a escassez de movimento que a vida urbana contemporânea impõe. Modalidades que propiciem corridas livres, saltos, giros, rolamentos e toda sorte de ações motoras são fundamentais para boa coordenação motora e consciência corporal.
    A variedade de esportes também traz outra vantagem no que diz respeito aos valores educacionais e de socialização. Pela minha experiência prática como atleta e professor, entendo que experimentar modalidades individuais e coletivas acarreta benefícios inestimáveis para a formação educacional do indivíduo. Sentir as diferenças entre ambas desenvolve a capacidade sócio-afetiva da criança, preparando-a para o convívio social e profissional na vida adulta.
    Além dos muitos prós, o esporte na infância gera uma série de dúvidas e opiniões sobre possíveis malefícios de sua prática nos primeiros anos de vida. Por se tratar de conhecimentos da área biomédica que evolui cada vez mais rápido à medida que as descobertas e pesquisas se multiplicam, mitos e "verdades absolutas" se sedimentam com o passar dos anos. É difícil a quebra de paradigmas, mas não custa tentar em prol da saúde. Aliás, deve-se fazê-lo!
    São muitos os mitos do senso comum, portanto escolhi apenas dois para que coubesse aqui. Ambos são sobre crescimento e desenvolvimento, criando enorme confusão e preocupação em pais e familiares. Todos já ouvimos alguém dizer que certo esporte estimula o crescimento e que outro faz parar de crescer. Sobre a primeira afirmação a resposta é simples. Quem determina a altura da criança é sua herança genética, o que ocorre nos esportes é seleção natural. Pra algumas modalidades é fundamental ser alto, eliminando-se os mais baixos. Em outras ocorre exatamente o oposto. Já a segunda é um pouco mais complexa, mas superestimada. Para que haja prejuízo no crescimento, deve haver lesão epifisária. A mesma pode ser traumática ou pelo excesso de exposição a atividades físicas de volume e intensidade demasiados em tenra idade. A primeira situação ocorre em geral de acidente grave. No segundo caso, que envolve a prática esportiva, deve-se entender que o citado excesso é ocasionado em condições extremas. Correr, saltar, jogar futebol, basquete ou vôlei não são causas de tal lesão, para tal seria necessário que a criança treinasse com períodos e cargas de atletas adultos. Algo inconcebível para um profissional de Educação Física, mesmo que inexperiente. Em 25 anos como atleta e 10 como profissional nunca presenciei nem soube de tal ocorrência. 
    Deve-se estimular a prática esportiva, mas havendo dúvidas faz-se necessário procurar um profissional gabaritado que ofereça a devida orientação.  

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Alongamento x Treino de Flexibilidade

   
 
   A fisiologia do exercício, assim como quase tudo que se refere aos estudos do corpo humano, possui alguns buracos negros. Mecanismos fisiológicos que ainda não se sabe exatamente como funcionam ou o que acarretam. Dentre eles um dos temas mais discutidos é o aquecimento, seus efeitos e modo de realizá-lo. Neste contexto paira sempre uma dúvida entre os praticantes de atividades físicas, o alongamento.
    Antes de mais nada é preciso entender que há relevante diferença entre alongamento e treino de flexibilidade. Os movimentos e posições podem ser similares, entretanto a intensidade e a duração vão distinguir um do outro. E estas diferenças influem diretamente sobre o rendimento e a integridade do tecido muscular.
     No alongamento são executados movimentos e posições mais tênues, em que a sensação de desconforto é pequena, assim como a duração do exercício. Pode ser realizado tanto como parte do aquecimento, quanto após a atividade. Em geral, faz-se de forma dinâmica (com movimento) antes e de forma isométrica após a atividade. A indicação da execução dinâmica no aquecimento e isométrica no pós treino, deve-se ao objetivo do exercício. Realizando o alongamento com movimento torna-se mais eficiente a preparação articular e muscular para o exercício, enquanto a manutenção de uma posição por alguns segundos em ângulo confortável ajuda no relaxamento local após o treinamento.
    O treinamento de flexibilidade, como o nome já diz, é o condicionamento e evolução de uma habilidade motora. Assim como há treinos para desenvolver a capacidade aeróbica, a potência, a velocidade e a força, também deve-se estimular a flexibilidade dos componentes articulares. A sessão de treino de flexibilidade deve ser feita isoladamente já que é concorrente com a maioria das outras habilidades motoras. Utiliza-se tanto o método isométrico quanto o dinâmico, contudo em amplitudes articulares, duração e intensidade maiores. O objetivo é aumentar a capacidade de arco de movimento de forma segura e gradual, proporcionando articulações e grupamentos musculares mais preparados para realizar tarefas e manter postura adequada diante das situações que o corpo se submete. A melhora na flexibilidade possui relação direta com a redução de dores e lesões advindas de má postura e/ou exposição a movimentos de alto grau de amplitude articular.
    Não há comprovação científica que indique o alongamento como fator de prevenção de lesões, de fato ele pode acarretar ou agravar lesões quando feito de modo inadequado muito próximo a sessões de treinamento. Não há contra-indicações ao alongamento leve logo antes ou logo após a atividade. Já a flexibilidade deve ser estimulada em sessões separadas.  

terça-feira, 29 de abril de 2014

Exemplos

    
   Apesar deste espaço ser voltado para toda e qualquer abordagem relacionada a esportes, duas delas se destacam além do próprio tema central. Nas duas primeiras postagens foram pinçados temas sobre esporte e saúde, faltando um assunto relacionado à educação para que o início da caminhada estivesse completo. E para minha sorte (ou azar) o tema veio à tona nas principais mídias. Infelizmente não é um assunto agradável e que nem devia ser pauta ou tema de discussão alguma, mas as recentes e recorrentes manifestações racistas em arenas esportivas tornam a celeuma inevitável.
     Alguém poderia se perguntar, ao ler o parágrafo anterior, o que tem a ver educação com racismo. Tudo! E não apenas racismo, como todas as formas de discriminação. Porque nenhuma criança nasce gostando de um tom de pele e odiando outro, adorando uma divindade e endemonizando outras (ou quem não crê em alguma), se agrupando com outras crianças ricas e se afastando das pobres. Aprende-se a agir de tal forma, alimenta-se o sentimento de repulsa e aversão ao que é diverso. Antes de ser caso de polícia, segregação e discriminação de qualquer origem são problemas educacionais e culturais. E o esporte é uma das ferramentas educativas mais poderosas que a humanidade possui.
    Educação e esporte devem sempre caminhar juntos para que ambos alcancem a meta maior de formar cidadãos. Tanto um quanto outro dependem de exemplos para que a teoria se concretize e nisso são ricos em casos reais. Penso ser o mais famoso e relevante o de Nelson Mandela, líder que manejou tais ferramentas com sabedoria e maestria ímpares.
     A história de Nelson Mandela com o Rugby na África do Sul é bem conhecida, tendo sido narrada inclusive nas telas de cinema através do filme "Invictus". O que se extrai do episódio narrado no filme para o contexto da discussão atual é o sentido de tolerância e abnegação em prol do bem coletivo e da mudança de cultura existente no país pelo exemplo. Mandela como líder e educador sabia que pelo seu exemplo poderia inspirar mudanças que levariam ao rompimento do paradigma que se criara até então. O que se esperava de um líder negro após décadas de perseguição da elite branca é que liderasse a caça aos inimigos. Contudo, ele usou o esporte como elo de sua nação. Lançaram-lhe bananas por 27 anos e, em resposta, ele as comeu todas! Não somos Nelson Mandela, mas podemos comer algumas bananas...

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Treinamento Funcional

    Assim como disse Chacrinha sobre a televisão, podemos dizer o mesmo em se tratando de atividade física e treinamento nos últimos anos: nada se cria, tudo se copia. Na minha modesta opinião a última novidade na área do treinamento desportivo chama-se Core Training, o resto quase sempre é apenas uma remodelagem, adaptação de conceitos ou simplesmente uma nomenclatura nova. Essa tendência se acentua por ser o público consumidor leigo em sua maioria e também porque muitos profissionais parecem interessados em que assim se mantenha.
     Seguindo essa linha, chegamos a uma das modas atuais nas academias, clubes e demais espaços destinados à pratica de atividades físicas orientadas: Treinamento Funcional. O conceito, assim como a descrição da palavra, são de simples entendimento. Qualquer coisa funcional deve ou deveria ser algo destinado a realizar ou proporcionar a realização de determinada função. Evidente! Quando surgiu a ideia de realizar um trabalho físico funcional o foco era a população idosa que, à medida que envelhecia, deixava de conseguir fazer suas AVD´s (atividades da vida diária). Com o tempo, o termo ganhou abrangência e passou a ser desenvolvido para outras populações, como atletas, por exemplo. E aí entra a frase do saudoso Velho Guerreiro. O treinamento funcional no esporte nada mais é do que a aplicação de um dos mais antigos princípios do treinamento desportivo: a especificidade. Busca-se dissecar os gestos de cada modalidade para que se proponham educativos e exercícios objetivando a excelência técnica e física do atleta.
      Saindo dos extremos que citei, idosos e atletas, chegamos ao resto da população que constitui o outro grande mercado consumidor do produto atividade física. Neste grupo não há uma função prioritária definida, portanto o conceito de treinamento funcional começa a se tornar difuso exatamente nesse ponto. O idoso busca realizar suas AVD´s e consequentemente ter qualidade de vida. O atleta busca perfeição na execução técnica e no rendimento esportivo. E os resto? Emagrecimento, hipertrofia, tônus muscular. Como se transforma isso em função? 
     Chegamos ao ponto então. O que se passou a oferecer foi um treino em circuito com estímulos variados dentro do modelo de aula de ginástica. Continua sendo uma atividade física? Sim, claro. É funcional? Depende! É um treinamento em circuito. Possui um forte componente lúdico que gera motivação e que, dependendo das variáveis do estímulo, pode alcançar os mais diversos objetivos. Condicionamento aeróbio, anaeróbio, RML. Enfim, o que vai determinar se é funcional ou não é o que o profissional que elaborou o programa propôs, e se o treino de fato alcança tal meta.
     O outro ponto sobre a proliferação desses circuitos aleatoriamente é a segurança. O movimento que se aproxima de um gesto esportivo tende a ser feito em planos, velocidades e acelerações variadas. Isto aumenta o risco de lesão mesmo em atletas, que dirá em pessoas "comuns".
     Qualquer iniciativa que busque massificar a prática de atividades físicas deve ser incentivada, contudo a orientação adequada é tão importante quanto o combate ao sedentarismo.
     

Regras e Arbitragem

    Para começo de conversa resolvi dar o ponta-pé inicial abordando dois assuntos que se interligam e que geram inúmeras polêmicas, principalmente no velho esporte bretão. E não é por acaso. O futebol, ao contrário de outras modalidades, segue com poucas alterações em seu livro de regras e se mantém alguns passos atrás na evolução natural dos esportes.
    Muito se discute no meio futebolístico acerca da utilização de meios tecnológicos no auxílio da arbitragem. Para alguns seria injusto que nem todos tenham acesso às mais recentes tecnologias disponíveis, para outros o jogo perderia seu caráter popular ou ainda prejudicaria o andamento da partida. Discordo plenamente! Qualquer alteração que venha a reduzir falhas humanas é bem vinda. Até hoje não soube de algum tenista que tenha reclamado por não haver o sistema de desafio em todos os torneios, ou mesmo por só estar disponível em algumas quadras em torneios que utilizam tal sistema. O mesmo ocorre com o vôlei atualmente. O basquete já utiliza monitores à beira da quadra para rever lances duvidosos. Enfim, o mundo evolui e os esportes não são imunes a isso.
     Antes mesmo da discussão sobre novas tecnologias, há alterações bem mais simples e baratas que poderiam tornar o futebol um jogo com mais lisura. Pelo que vejo, principalmente na América Latina, a mudança mais benéfica para o futebol seria na cronometragem e no tempo da partida. Salvo engano, é o único esporte que o árbitro principal controla o tempo. Se o tempo passasse a ser regressivo, parando o cronômetro a cada paralisação e registrado em um placar eletrônico haveria muito menos espaço para a prática obscena da "cera" e não seria necessária a discussão se deveria se acrescer 1, 2 ou 3 minutos ao tempo de jogo. Ora, já existem estatísticas atuais mostrando que muitas vezes um jogo de futebol tem menos de 60 minutos de bola em jogo, que é o limite colocado como aceitável pela FIFA!
     Penso ser até mesmo óbvio que a solução é simples, contudo não consigo enxergar se alguém tem interesse em que assim se mantenha o jogo. Se uma partida que deveria ter 90 minutos tem 60, está se furtando do espectador um terço do valor que o mesmo paga pelo ingresso. Se nenhum gestor esportivo pensou nisso até hoje, deveria rever sua atuação. Passando o tempo de jogo para dois períodos de 25 ou 30 minutos, cronometrado em um placar eletrônico comandado por mesários e parando o relógio a cada paralisação e saída de bola, tornaria o jogo mais honesto e emocionante. Sem grandes prejuízos ao tempo total de disputa.
     O tema é vasto e meu arsenal de ideias sobre o mesmo também. Será assunto futuro e recorrente por aqui. Mais para frente externarei outros posicionamentos.


sábado, 26 de abril de 2014

Apresentação

     Como tudo deve partir de algo, mesmo que não se saiba para onde vai, dou a largada aqui para uma ideia que já existia há tempos e que agora deixa a teoria para tomar vida. E que seja longa.
    A ideia é criar um espaço para expor e debater o esporte através de todas as suas abordagens. Sim, é um tema vasto, rico e difuso. Portanto, uma oportunidade para falar muito. Assunto não faltará. 
     Entretenimento, promotor de saúde, instrumento educacional, elemento de socialização. O esporte possui diversas funções, embora não seja totalmente explorado e desenvolvido como deveria em nosso país.
    Diversas áreas do conhecimento humano têm relação com esporte. Medicina, psicologia, sociologia, antropologia, educação, história, política. Enfim, matéria para discussões e ideias há em profusão. Não tenho a pretensão de dominar todos, contudo penso ser deveras relevante a troca de ideias e experiências sobre toda e qualquer abordagem que possa contribuir com a evolução do esporte. Participarei, obviamente, lançando mão de minha experiência como esportista e profissional do esporte, e aprofundarei quando assunto me permitir.
     Assim como todo assunto abrangente, o esporte gera um leque variado de reações e opiniões. Algumas pelêmicas e discussões mais acaloradas podem surgir e entendo como normal e até mesmo sadio para o que se propões. Contudo, serei o mais isento possível para que se mantenha o "ambiente" civilizado.
     O canal está aberto e espero que alcance seu propósito que é enriquecer o campo de conhecimento deste tema que tanto atrai e encanta milhões de pessoas ao redor do planeta.